terça-feira, 24 de abril de 2012

Relacionamentos por interesse. De quem?




Fiquei consternada quando me deparei com este vídeo (abaixo) na internet. Ele mostra a estratégia de um trabalhador “braçal” para conquistar uma mulher que trabalha na empresa para a qual ele está prestando serviço. Cansado de ser desprezado pela moça, ele aluga um BMW, compra roupas caras e consegue chamá-la para sair. Ele a conquista e, no dia seguinte, enfrenta a situação estranha de se encontrar novamente com a mesma mulher, em seu trabalho, porém agora de volta a seus trajes normais.


Não é de hoje que as mulheres levam fama de interesseiras, mas isso sempre me soou como algo irreal. Primeiro porque eu, particularmente, nunca fui uma mulher interesseira. Ao contrário, eu nunca senti atração por homens bem sucedidos, “engomadinhos”, estilo executivo. Eu gosto de cara toscão mesmo. É, daquele tipo que chega em casa todo sujo segurando uma caixa de ferramentas.
Em segundo lugar, eu nunca fui amiga de mulheres interesseiras. Sempre procurei estar ao redor de mulheres inteligentes, independentes, e que, se almejam algo, vão atrás por si próprias, e não através de um homem. Sendo assim, esse assunto sempre foi muito alheio às minhas experiências de vida.

“Bom partido”, pra mim, é o cara da direita e abaixo: o personagem “faz-tudo e pobretão” interpretado por Kurt Russell em “Um Salto para a Felicidade”.


Interesseira pela educação machista ou por psicopatia mesmo?
Acredito que existam dois tipos de mulheres interesseiras: aquelas que até gostam do cara, mas que consideram um complemento que ele ganhe bem. Resguardam sentimentos verdadeiros de amor e afeto pelo companheiro, mas esperam que seja ele quem compre a casa, o carro, que pague o IPVA, etc. Algumas até esperam que ele já tenha tudo isso antes de começar a namorá-lo. O salário dela (se houver), fica reservado para as coisas mais superficiais.
Embora seja uma atitude repulsiva, é compreensível - o que não quer dizer justificável. A educação que se dá às meninas, ainda, é de que o maior objetivo de vida é conseguir um marido bom partido. Mesmo as que são incentivadas a estudar e a trabalhar, ouvem, por seus mais diversos vínculos sociais, que quem põe comida na mesa, mesmo, é o homem; que é responsabilidade dele prover a família; que é ele quem deve ganhar mais; que é culpa dele se o casal não pode levar o padrão de vida desejado.

        Digo que isto é compreensível, porém não justificável porque, mesmo recebendo tal educação, todos têm o poder – e dever – de transgredir, de desenvolver um senso crítico para questionar os valores que são passados e assim fazer o que é certo e justo, e não o que é conveniente. Isto é, por mais que estas mulheres ajam de tal forma por falta de orientação e falta de esclarecimento feminista, não posso perdoá-las porque supostamente seriam meras vítimas. Elas sabem muito bem o que estão fazendo e estão cientes do prejuízo disso para a própria condição social da mulher em geral (se elas mesmas esperam que o homem ganhe mais, quem irá lutar contra o preconceito de gênero no mercado de trabalho e contra os salários desiguais?).
            Eu mesma tive uma educação machista. Sim, daquelas que prega que a mulher faz a comida e lava a louça enquanto o homem fica coçando o saco assistindo futebol; que eu devo estudar e crescer profissionalmente, claro, mas que meu marido deve ganhar muito mais do que eu; que mulher que sai com muitos caras é “piranha”, mas o homem que faz isso é um garanhão sortudo, etc. Não preciso dizer o quanto eu saí pela tangente destes valores, felizmente!


Exemplo de homem “estilo filho da puta deputado” que minha família quer que eu namore. Vão ficar querendo.

O segundo tipo de mulher interesseira é aquele em que o desejo pelo homem é tão falso que beira a psicopatia. São os casos de relacionamentos que se mantêm meramente por interesse financeiro. São geralmente mulheres belíssimas com homens horrorosos.


Tenho a leve impressão que ele é rico. Posso estar enganada.

Tenho certeza de que a beleza interior é o que une este apaixonado casal.




O fato de eles serem ricos é mera coincidência, né não?



Ana Furtado e Boninho: ela, linda; ele, feio, escroto e ainda por cima diretor do BBB. Ou seja, porcão na enésima potência.
Ora, alguém me explica o que uma mulher linda e doce como a Ana Furtado está fazendo com o Boninho, um homem tão nojento que dá até ânsia de vômito? Manter um relacionamento amoroso – ou apenas sexual – com um homem apenas por dinheiro é tão frívolo, tão leviano, tão dissimulado, que beira a psicopatia.
Relacionamentos ganha-ganha
Da mesma forma que no mundo corporativo existem as tais negociações ganha-ganha (win-win negociation), isto é, em que ambas as partes tiram grande proveito de determinado acordo comercial, tal lógica se repete no mundo dos relacionamentos. Nos relacionamentos ganha-ganha, cada parte leva o que quer: ela, presentes caros, carros importados, mordomias; ele, sexo.
Mulheres interesseiras existem, sim, não vou negar (embora não façam parte de meu meio social). Mas da mesma forma que eu não convivo com elas, os homens também poderiam não fazê-lo. Existem inúmeras mulheres não-interesseiras e que desejam conquistar bens materiais e imateriais por si próprias. Se os homens queixam-se de só encontrarem mulheres interesseiras, é porque estão procurando nos lugares e circunstâncias errados. Pior: estão procurando as pessoas erradas.

O interesse é só da mulher?




Ele também não é santo.
 
Ao ver a foto acima, por exemplo, todos centram-se no fato de que “ela é uma vagabunda que está com ele apenas pelo dinheiro”. Mas ninguém se atenta ao fato de que ele é tão superficial e interesseiro quanto ela. Ele também só está com ela por um motivo: seu corpo e os prazeres sexuais daí advindos.
Nunca irei defender as mulheres interesseiras. Elas ferem a imagem de todas as mulheres, e não só a delas mesmas. Ou alguém tenta defender que tal mulher é interesseira “porque é capricorniana”, “porque é irmã caçula” ou “porque adora sorvete”? Não, ao contrário, a justificativa é sempre “porque é mulher”. Sendo assim, é um julgamento que se faz a todas as mulheres indiscriminadamente e que afeta todas elas, mesmo as que nao têm nada a ver com isso.
De todo modo, também não aceito ver homens igualmente superficiais e interesseiros se fazendo de vítima. Os homens que se envolvem com elas sabem muito bem onde estão pisando, com quem estão se metendo. Eles estão com elas porque querem, porque também têm algum ganho nesse tipo de relacionamento. Estar perto delas é, portanto, uma questão de escolha.
É como diz um ditado moderno que corre nas redes sociais: “Mulheres que escolhem os homens pela carteira não podem reclamar de serem tratadas como mercadoria”. Não poderia concordar mais. Todavia, ele merece um complemento: “Homens que escolhem as mulheres pelo tamanho da bunda também não podem reclamar de serem tratados como uma mera carteira”. 

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Não sou contra a vaidade





Muitos leitores, assim como Amanda, devem acreditar que sou contra a vaidade. Devem crer que eu considere futilidade se arrumar, se maquiar, ir ao shopping, etc. Alguns devem até deduzir que eu acredite que as mulheres devam ser feias para serem revolucionárias. Essa interpretação equivocada de meu pensamento me preocupa muito, pois passa longe da veracidade.

Eu não sou contra a vaidade. Não a vaidade propriamente dita. Eu mesma sempre faço escova no cabelo, por exemplo. Adoro cabelo ondulado e cacheado, mas o meu, naturalmente, é daquele estilo ondulado indefinido, que parece descabelado não importa quantas mil vezes penteei. Soma-se a isso o fato de que tenho 3 vezes a quantidade de cabelo que uma pessoa normal tem (é sério).

Adoro comprar roupa nova (mas confesso que ultimamente só compro em promoção) e já fiz várias sessões de depilação a laser. Adoro pintar as unhas, principalmente de cores fortes como vermelho, vinho e marrom. Amo brincos, principalmente os enormes, e não cogito ficar sem eles.

Maquiagem admito que não uso no dia-a-dia pelo simples fato de não achar necessário. Uso apenas em ocasiões especiais, mas mesmo assim de um modo muito leve. Digamos que batom não combina muito comigo, eu simplesmente fico parecendo um periquito comendo uma cereja. Bizarro mesmo.

Mas não acho que quem se maquia é fútil. Um delineador de olhos e um brilho labial não fazem mal à ninguém; pelo contrário. O que eu acho fútil é aquela necessidade de estar sempre com aquela maquiagem extremamente carregada, estilo Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo, para todas as situações, inclusive as mais insignificantes. O que eu acho fútil é aquela obsessão por estar sempre impecavelmente arrumada 24 horas por dia. Além de futilidade, isto denuncia um problema maior: o machismo invisível, segundo o qual as mulheres devem sempre ser julgadas por suas características físicas.


A vaidade não é um problema...até que se torne uma questão de gênero.

Isso não tem a mínima graça.

 
Não é novidade para ninguém que, enquanto as mulheres estão neuroticamente preocupadas com sua aparência, os homens só tomam banho, passam desodorante e vestem aquela camisetinha branca básica. Isso pouco importa para a vida social ou profissional deles. Eles simplesmente não precisam ser aprovados pela aparência para conquistarem respeito ou o que quer que seja. Tem algo injusto aí, não?

Outra questão relevante é que a esmagadora maioria da população mundial não esbanja quantias inesgotáveis de dinheiro. Muito menos as mulheres, que ainda ganham menos que os homens. Sendo assim, você não consegue comprar tudo o que deseja e ainda pagar todas as contas do mês; é preciso estabelecer prioridades.

E o que isso significa? Bem, é fácil: se a prioridade de muitas mulheres é freqüentar o salão de beleza todo mês, fazer drenagem linfática habitualmente, pagar a “lipinho básica” no fim do ano e comprar bolsas que custam mais que um salário mínimo, quem acaba pagando a escola das crianças, a conta de luz, o IPVA, a comida para pôr na mesa? Exatamente, o homem. E, se desejamos igualdade, ela começa pelos deveres iguais, inclusive os financeiros.

Acho que sei pra quem vão sobrar essas contas...


Quando a vaidade deixa de ser saudável.

Cansei de ver meninas e mulheres chegando à faculdade à noite, após um longo dia de trabalho e minutos antes de começar a aula, obstinadas a retocar a maquiagem (com instrumentos tão diversos que alguns deles sequer sei o nome). Ora, pra quê? É só uma aula, você está aqui para estudar! Algumas estão tão maquiadas logo cedo (e para os compromissos mais desnecessários) que só podem ter acordado 5 horas da manhã para isso. Algumas são tão neuroticamente retocadas com pó que dão até vontade de espirrar.

Sempre vejo mulheres que mal conseguem andar devido ao salto altíssimo. No fim do dia, estão fisicamente esgotadas e seus pés moídos não lhes permitem fazer mais nada. Não é à toa que são presa fácil de assaltantes: elas não vão conseguir fugir!

Sapato com salto é mais bonito? Pode até ser, mas o primordial não deveria ser o conforto? Vejam, não precisamos viver de “rasteirinha” para estarmos confortáveis. É possível sim usar sapatos com saltos, mas daquele tipo que ainda te permite realizar funções básicas como andar e sair para almoçar.

Todo dia vejo mulheres se privando de certos alimentos, reclamando que “esse engorda”, “isso dá barriga”. Não se entregam a uma pizza deliciosa ou a um cachorro-quente suculento. Se o fazem, é com culpa. Elas contam calorias até de um copo de suco.
 



Ora, isso não é vaidade. Isso é escravidão à estética; é incorporar o conceito de que mulher só tem valor se for para enfeitar o ambiente sexualmente; é reforçar o conceito de que nosso único poder é pela beleza; é fortalecer o valor de que precisamos ser julgadas pela aparência, antes de tudo.

Beleza e revolucionarismo não são antônimos.

Isso não significa que devemos ser feias para sermos revolucionárias. O que tento mudar é justamente o conceito de mulher feia: arrumo meu cabelo, uso roupas novas, pinto as unhas, combino as cores do sapato, mas não preciso passar batom, pó, delineador, blush, pôr cílios postiços, gastar minhas economias em cirurgias plásticas e usar diariamente salto de 10 cm para poder ir até a esquina.


Hoje em dia, muitas mulheres não sabem a diferença entre ser vaidosa e ser fútil. Creem que só existem dois extremos: ser vaidosa e fútil ou não-vaidosa e “baranga”. O que se tem em mente é que, para ser bonita, é necessário cair na futilidade, o que é um grande equívoco. É muito possível que os dois conceitos não caminhem juntos, o que significa que podemos ser vaidosas sem sermos fúteis e, melhor ainda, podermos ser bonitas e ainda sermos revolucionárias.

Se arrumar e se maquiar é legal? É. O que não é legal é tratar isso como se fosse o maior valor de uma mulher, o primordial em nossa existência, um passaporte necessário para ser respeitada, um pré-requisito para poder aceitar a si mesma. O espelho não pode se tornar a nova submissão da mulher.