terça-feira, 26 de maio de 2009

Moralismo ou puro bom senso?

É notável que nas últimas décadas estamos vivenciando uma tendência exacerbada de se flexibilizar tudo e aceitar tudo o que era até então inaceitável, talvez numa tentativa desorientada de recuperar o tempo perdido de tanta repressão que se instalou em diversos contextos durante toda a história. Assim, hoje, há uma constante pressão da sociedade para ver tudo com extrema naturalidade. Chegou-se a um ponto em que tudo se justifica pelo dinheiro ou pela diversão. Se uma determinada conduta confere diversão ou proventos a alguém, parece ser proibido abarcá-la na questão de certo ou errado.


Quem ousa criticar qualquer coisa, ou adentrar no âmbito do “certo ou errado” é taxado de moralista e conservador. Falar em moral, valores, questionar condutas, debater a erotização da televisão e a instigação sexual precoce propiciada pela mídia ou qualquer coisa do gênero virou sinônimo de caretice e conservadorismo. A tênue linha que dividia o moralismo do bom senso parece ter se esvaído há algum tempo, o que resultou na triste situação atual: a sociedade não consegue mais distinguir o que é ser um moralista conservador e o que é ter senso crítico.

A única proibição consentida parece ser justamente contra o ato de proibir, ou seja, é proibido proibir. A mídia percebe muito bem essa tendência, por isso as emissoras de televisão concedem programas de entretenimento a pessoas como Luciana Gimenez, Luciano Huck, Gugu e outros tantos “promotores de erotismo disfarçado de entretenimento” que chamamos delicadamente de apresentadores. Como criticar qualquer coisa - principalmente quando ela abarca a sexualidade - é visto como uma atitude de excessivo pudor e moralismo, esses programas televisivos atraem grandes audiências, de pessoas de todas as idades e classes sociais. A mídia apresenta programas cada vez mais chulos e valores cada vez mais deturpados. A mulher é usada como objeto sexual de uso e desuso para enfeitar o ambiente sexualmente. Mercantilizar o corpo feminino se tornou instrumento indispensável para atrair a atenção do público. Programas de televisão idiotizam a mulher nas situações mais gratuitas. 


Típico programa escrotamente machista que todo mundo acha normal.
Essas atitudes vão se tornando cada vez mais comuns, aos poucos tornando-se normais, banais e plenamente aceitáveis, ao ponto de uma mulher se deparar com o priminho enxergando uma mulher como um mero pedaço de carne e achar até engraçadinho. Ao ponto de vermos mulheres rebolando praticamente de calcinha no palco onde há crianças das mais tenras idades, e quem julgar isso ser taxado de moralista. Ao ponto de termos que conviver com a cultura de que “para se divertir tem que ter baixaria e mulher como objeto de consumo sexual” até em bailes de formaturas, e quem ousar criticar é taxado, novamente, de moralista.

Fico imaginando como será a situação para as mulheres num futuro muito próximo. Se hoje já temos que nos proteger a todo momento contra assédio sexual dos chefinhos; contra assédios na rua, quando ouvimos comentários sobre nossa aparência, como se fôssemos meros bens de consumo num supermercado, totalmente à disposição da opinião alheia; se quando vamos fazer uma baliza alguns homens param de braços cruzados para analisar nossas manobras, só esperando nosso primeiro erro para nos chamarem de barbeiras; se somos julgadas primeiramente em relação à nossa aparência até mesmo em situações profissionais, etc, imaginem então como será para a próxima geração, já que os garotinhos de hoje em dia estão crescendo e se desenvolvendo se deparando a todo momento com essa imagem da mulher veiculada pela mídia e por estilos musicais (como funk e axé), encarando a mulher como uma mera bunda ou um par de peitos (plastificados, o que é ainda pior), ou seja, um mero corpo para sua satisfação sexual. Imaginem, então, quando eles se derem conta que essa cultura machista é banalizada, acatada e até promovida pelas próprias mulheres.